[Mangá] Hallucination From The Womb
"Vou lhes contar agora sobre a cidade que um dia existiu. Uma cidade cuja própria existência agora foi esquecida. Uma cidade que imprudentemente se ergueu cada vez mais para o alto. Por um propósito desconhecido e uma razão incerta essa cidade se dedicou exclusivamente ao desenvolvimento. Os restos dos sonhos daquela cidade... A história de um homem tão obcecado por sua esposa que tentou possuir até o passado dela. A história de uma garota que era grata a um homem que salvou sua vida, mesmo que fosse por mais três anos. A história de um homem que só conseguiu dizer à sua esposa o que ele queria que ela soubesse após a morte. A história de um garoto cuja busca por uma poção do amor o levou a duvidar de seus verdadeiros sentimentos. A história de um homem que amava algo sobrenatural. A história de um homem que estava apenas interessado em garotas que não podia tocar. Essa é a história deles."
Kakutoshi no Yume, também
conhecido como Hallucination from the Womb,
é uma coletânea de histórias melancólicas ambientadas num mundo
sci-fi decadente.
Escrito e desenhado por
Mohiro Kitoh (Bokurano),
o mangá de volume único contém sete episódios independentes e com
temáticas diferentes, alguns com teor mais fantástico, outros mais
filosóficos. O único ponto em comum é o local: a Shell
City, uma cidade feia, velha,
superpovoada e opressiva.
Além disso, todas as tramas são acompanhadas por dois policiais,
com papéis mais de expectadores que de protagonistas.
Não
posso contar muito sobre as histórias, já que, pelo seu tamanho
curto, um spoiler seria dado com muita facilidade (e acredite, a
surpresa é importante nesse caso). Mas farei um panorama de cada
uma. Caixão de aniversário
mostra a que ponto o amor e a solidão são capazes de levar alguém.
O Deus de três anos é
chocante, para dizer o mínimo. Leia por sua conta e risco. Aqui
vemos novamente uma pessoa capaz de fazer coisas doentias por causa
da solidão. Esse, na verdade, é o tema mais presente nas histórias.
A população de Shell City
sofre de uma solidão cruel e esmagadora. A voz de um
morto-vivo toca nas mesmas
questões apresentadas, mas pela primeira (e única) vez de uma forma
até, digamos, fofa. É a mais romântica. O gosto de uma
poção do amor tem um tom mais
erótico e misterioso, flertando com lendas e sociedades secretas. A
marca do Zashiki-Warashi traz
uma releitura de uma lenda tradicional japonesa sobre um espírito de
uma criança que habita quartos. A gaiola do Criador
é foda, sem mas. O melhor da coletânea com folga, traz
questionamentos filosóficos e sociais bem instigantes. O
amor de um Shouryoushi
estabelece uma conexão entre os personagens dos contos e revela um
pouco mais sobre a decadente sociedade em que vivem.
As histórias de Kakutoshi
no Yume têm um clima bem
sombrio e apático, mas que carregam reflexões e significados
próprios. É meio difícil explicar, é algo bem
interpretativo. Mas as vejo como retratos da solidão, carência e
vazio humanos. Não é um mangá muito divertido, admito. Não há
lutas ou comédia, e mesmo as cenas de sexo são um tanto
perturbadoras por chegarem bem perto da pedofilia (lolicon). A arte é
bem simples, os personagens têm um visual bem pouco marcante (esse
inclusive é a maior crítica nos trabalhos de Kitoh). No entanto,
destaco as expressões dos personagens. Sem apelar para os exageros
caricaturais comuns na estética dos mangás, Kitoh transmite com
realismo o vazio e a melancolia. Se você está a fim de ler algo
curto, adulto, que te faça pensar e tem estômago para cenas de sexo
envolvendo meninas jovens, recomendo a leitura de Kakutoshi
no Yume.
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